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SR. GUSTAVO JOSÉ DA SILVA
Minha chegada a este mundo deu-se no dia 11 de maio de 1890, na fazenda do Rio das Pedras, neste município, no sitio denominado Poção. Fui recebido carinhosamente no lar feliz do casal José Joaquim da Silva e D. Maria Flausina de Jesus, minha adorada mamãe. Fui o 13º filho a me abrigar naquele indevassável reduto de paz, alegria e amor, rodeado por carinhosos irmãos amigos e companheiros de outras jornadas neste orbe terrestre. Batizaram-me na igreja da Vila de São Pedro de Uberabinha (que havia sido instalada a 14 de março de 1891) e registrado no Cartório de Paz e Registro Civil, já existente, em obediência às leis da nova República do Brasil. Quando eu tinha apenas cinco anos de idade, minha irmã Maria de Nazaré foi atacada por pertinaz enfermidade, que durou muitos meses, zombando dos recursos terapêuticos da época, e levou-a ao túmulo. Lembro-me de que nessa ocasião e para confortar a enferma, papai ou algum dos meus irmãos lia em voz alta, em sua presença, um livro espírita intitulado: Jesus Perante a Cristandade, o primeiro livro espírita que eu vi. O mais interessante é que eu naquela tenra idade, já sentia uma particular atração e simpatia por tal leitura, a ponto de conservar até hoje nítida lembrança desse fato. Lembro-me também de ter vindo no carro funerário que transportou o corpo de minha irmã para esta cidade em que ela fora enterrada, em frente ao portão de entrada do cemitério, mais ou menos à altura do coreto existente agora na praça Antonio Carlos. À tardinha, o meu irmão mais velho, José Julio da Silva, levou-me até a Estação da Estrada de Ferro, onde vi uma locomotiva que estava em manobras. Aos sete anos de idade fui iniciado na leitura de uma cartilha da infância e aos oito já estudava o primeiro livro de leitura, do Dr. Abílio Cesar Borges, Barão de Macaúbas. Pouco tempo depois papai comprou os seguintes livros: Roma e o Evangelho, o Evangelho Segundo o Espiritismo e Nó Invisível, de Leon Denis. Todas as noites os filhos mais velhos faziam serão de leitura em voz alta, a fim de todos aproveitarem dos ensinamentos contidos em referidos livros. Essa leitura era seguida de comentários e comparações que papai fazia com sua velha Bíblia Sagrada, companheira de muitos anos, para certificar da veracidade da nova Doutrina. Em todos os Capítulos consultados eram encontradas as verdades que estavam nas obras espíritas. Desse exame meditado criteriosamente, nasceu a solidez da nossa fé nessa Doutrina tão consoladora. Nos primeiros anos eu pouco lia, mas escutava com atenção e aproveitava muito das conversações e comentários feitos em família, referente a Doutrina, o que muito me valeu. Em 1906 deu-se a desencarnação de minha mamãe. Nessa época todos em casa já possuíam convicção firme e inabalável referente a veracidade da Doutrina Espírita. Deu-se um fato que veio corroborar com os nossos conhecimentos para firmar ainda mais, a fé que já possuíamos nessa Doutrina, que foi o seguinte: O vigário de Tupaciguara, padre Teófilo J. de Paiva, nosso amigo, já bastante familiarizado em nossa casa, pois, nos visitava sempre com o fim de realizar suas colheitas sacerdotais, que lá eram antes bem rendosas. Um belo dia, em que ele estava de passagem para Uberaba, parou em nossa casa para prevenir ao papai, que ia buscar Sua Revª Bispo D. Eduardo Duarte Silva, desta Diocese, para fazer uma visita aos seus paroquianos e que em tal dia estaria de volta com sua comitiva para almoçar conosco. Desta vez ao entrar em nossa casa, teve uma grande e inesperada surpresa, pois, estava um livro em cima da mesa, na sala. Ele, por uma curiosidade muito natural, pegou o livro e abrindo-o, levou grande susto, pois, era o Evangelho Segundo o Espiritismo que lá estava, em cima da mesa. Nessa hora, muito desapontado, disse: hó! livro espírita por aqui? vocês estudam isto? Meu irmão João que o recebera confirmou que sim e ele ponderou muito desconsoladoramente, é bom, é bom. Com esse susto perdera ele sua acostumada e muito natural vivacidade, porque ele julgava que todos nós fôssemos muito católicos. Disse logo quais eram as suas pretensões, como foi dito acima e tratou de se retirar, para continuar sua viagem. Na sua volta, dia e hora previstos, chegavam Sua Revª com o séquito que os acompanhava. Ao entrar em nossa sala o Sr. Bispo lançou um rápido olhar ao redor, soltando a seguinte expressão de contentamento: Ó! temos boas leituras por aqui, uma Bíblia, jornais Lavoura e Comércio, Ave Maria…. muito bem. Papai respondera – é verdade, etc. A Bíblia e os jornais foram postos propositadamente no lugar em que o padre vira o Evangelho. Parecia que o padre Teófilo estava muito preocupado com a existência de um livro espírita em nossa casa, pois chamou em particular meu irmão Alfredo e perguntado-lhe pelo livro disse: vocês devem mostrá-lo ao Sr. Bispo, ele pode dar algumas explicações a respeito dessa Doutrina. É possível, respondeu meu irmão, mas, em vez de atendê-lo contou-nos o que o padre lhe dissera, e muito desconfiado com o seu interesse, ponderou que, certamente boa coisa não é o que nos deseja, e terminou dizendo-nos: esse malandro quer é fazer complicações e nós devemos é ficar quietos, em silêncio. Essa conversa do padre com meu irmão deu-se antes do almoço, que logo depois foi servido, sendo devorado com avidez pelos pantagruélicos viajantes, bons bocados de uma saborosa leitoa assada, frangos e outras iguarias gostosas, das quais os nossos hóspedes eram grandes apreciadores. Esse trabalho foi realizado em grande silêncio, pois, ninguém queria tratar de outra cousa que não fosse comer a fim de tirar o estômago da miséria. Ao terminar o farto repasto, Sua Revª perguntou ao papai qual era o motivo de luto na família. Papai explicou que estava viúvo, que sua companheira havia falecido fazia dois meses. Nessa hora o padre Teófilo aparteou dizendo: ainda bem que, segundo dizem os espiritistas, os espíritos das pessoas que morrem, voltam para consolar os que ficaram. A essa afirmativa foi o Bispo quem respondeu: é verdade, os espíritas afirmam mesmo que os espíritos voltam, se comunicam e trazem mensagens muito confortadoras para os seus familiares e até já existem boas obras referentes a essa Doutrina, como as de Camilo Flamarion, por exemplo, são obras excelentes. Papai confirmou e ninguém mais dando palpite, a conversa terminou. Diante de uma pessoa que por todos os títulos merece consideração e respeito como a do Rev. D. Eduardo, homem bom, possuidor de grande cultura intelectual e muitos predicados morais, tolerante, incapaz mesmo de ofender ao seu adversário em religião, a sua opinião deve ser acatada com veneração, como foi por todos nós. Para saber se as obras espíritas são boas, principalmente as de Flamarion, forçoso é concluir que ele tenha lido todas as que havia naquele tempo. Com essa afirmativa categórica, ficou provada a convicção liberal de sua Rev. e terminado o incidente provocado pelo Padre Teófilo. Logo depois de terminado o almoço seguiram viagem rumo a Tupaciguara. Esta conversa do Bispo com o Padre na estrada, foi-nos revelada algum tempo depois, pelo capataz da comitiva que também era nosso amigo, e que o padre havia prevenido ao Bispo da circunstância de irem almoçar em uma casa onde ele vira um livro espírita, e que nós o estudávamos. Pouco depois que deixaram nossa casa, o Bispo dirigindo-se ao Padre disse: então Padre Teófilo, o livro não apareceu! é verdade, eles foram velhacos e não quiseram mostrá-lo, nem tocaram nesse assunto. Certamente eles queriam passar-nos uma severa reprovação, o que foi evitada por uma medida de prudência de nossa parte. De tudo que nos foi dito pelo Bispo, nós aproveitamos para firmar ainda mais a crença de havermos abraçado a verdade que é o Espiritismo, a continuação do Cristianismo. Em princípio do ano de 1909 vim a esta cidade e tive a oportunidade de visitar a redação do jornal “O Progresso”. Lá vi um pequeno jornal espírita “O Arrebol” que era publicado em Uberaba e comecei a examiná-lo. O Major Bernardo Cupertino, proprietário e redator de “O Progresso” vendo que eu me interessava pela leitura, deu-me aquele nº do jornal. Dali mesmo fui a casa de um amigo de papai, o Sr. José Dias Machado, espírita da velha guarda, pedir-lhe o favor de tomar em meu nome uma assinatura do referido jornal. Ele se prontificou muito gentilmente a atender-me, porém muito sabiamente, aconselhou-me a assinar o Reformador, que é uma revista já muito conceituada que publica as notícias mundiais do Espiritismo, e que traz maiores ensinamentos e de melhor reputação. Eu concordei e ele mandou logo o meu nome à sua redação, e dentro de pequeno período de tempo, comecei a receber e durante muitos anos consecutivos, fui assinante e seu assíduo leitor. Grande foi o aproveitamento que tive com a leitura dessa revista que hoje está no seu 75º ano de vida ininterrupta. No primeiro ano de 1912, transferi minha residência para esta cidade, iniciando aqui as minhas atividades com a profissão de carpinteiro e com ordenado de quatro cruzeiros por dia. Nesse ofício trabalhei mais de 30 anos até me aposentar por minha conta. Fiquei em casa de meu irmão Anselmo José da Silva e sua esposa Da. Claudimira de Godoi Silva, os quais muito me auxiliaram em meus primeiros passos na vida citadina. Minha cunhada mantinha um salão de corte e costura onde trabalhavam diversas moças como aprendizes da arte de bem vestir. Entre elas estava a muito bela e prendada jovem Marilia Vilela dos Reis, que me despertou grande simpatia e à qual logo fiquei preso por um misterioso laço denominado amor. Em pouco tempo ficamos enamorados, noivos e três meses depois, em 13 de abril, a recebi no altar do matrimônio, como minha legítima esposa. Essa cerimônia fora realizada às 17 horas, em caso do seu cunhado, o Sr. Agripino Augusto da Silva onde ela residia desde bem pequena, quando ficara órfão de seus pais. A solenidade foi presidida pelo Juiz de Paz, o Sr. Sebastião Ribeiro dos Santos, com o escrivão o Sr. Major José Gonçalves Valim Pirrai e as testemunhas: Frutuoso Neto, por mim e Agripino Augusto da Silva, pela noiva. Logo depois retiramos-nos para a casa de meu irmão, onde fora servida farta mesa de doces, e bebidas (refrigerantes). À noite seguiu-se animado sarau dançante num ambiente salutar, com muita alegria e fraternidade, prolongando-se até altas horas da madrugada. Alguns dias depois aluguei uma casa para instalar residência com minha companheira. Poucos meses após o nosso casamento comprei um terreno na Av. Afonso Pena, esquina com a rua Machado de Assis, e em seguida construí uma casinha com apenas dois cômodos e nela instalei meu lar, fugindo assim do aluguel que vinha pagando à nove meses. Tempos depois aumentei com mais dois cômodos, onde vivemos mais ou menos confortavelmente, durante muitos anos. Desse modo e vencendo sérias dificuldades financeiras, constituímos nosso modesto lar em casa própria, verdadeiro ninho de paz e amor. Nos primeiros dias, reinou entre nós grande harmonia e muita satisfação pela realização do nosso enlace matrimonial, com grandes esperanças de alcançarmos um futuro risonho e feliz. Entretanto, em nosso destino estava traçado que outros fatos menos auspiciosos se desenrolassem, a fim de se cumprirem as nossas provações segundo o nosso carma, ou destino, como ensina a lei da reencarnação do espírito. Poucos dias depois do nosso casamento, em plena lua de mel, surgiu junto à minha esposa um espírito que tinha sido companheiro dela na última existência terrena e vinha acompanhando-a desde outras vidas, sem saber que ambos haviam se desencarnado, e que ela se reencarnara de novo. Por influência desse espírito é que ela desde os primeiros anos da atual existência, fora uma criança extremamente revoltada, pirracenta, teimosa, cheia de vontade, muito rebelde e diferente das colegas da mesma idade. Ele, naturalmente, espírito muito mais inferior que ela, não percebendo que a morte lhe roubara o corpo de carne, continuou a vida errante no espaço, julgando ser o mesmo homem terreno, possuidor dos seus direitos adquiridos outrora. Pelo fenômeno da morte ele a perdera de vista, só encontrando-a de novo, depois que ela já estava reencarnada, nos primeiros anos da atual existência. Desde esse encontro, não a deixou mais. Com a minha união a essa moça, pelos laços do matrimônio, esse espírito não se conformando de vê-la unida a outro homem, que segundo sua concepção doentia, lhe tomara o lugar junto da antiga esposa, encheu-se de terrível ciúme, e no auge da revolta, logo no 8º dia, aproveitando das faculdades mediúnicas que ela possuía ainda em estado latente, agrediu-a violentamente incorporando-se nela como fazem nos trabalhos de desobsessão, que realizamos nos Centros Espíritas. Nessa oportunidade, dominando-a completamente, atirou-se contra mim numa discussão violenta, acusando-me de tudo o quanto um desvairado possa acusar a outrem, com uma linguagem envenenada de tal modo, que seria capaz de fazer tremer de vergonha a um frade de pedra. Entretanto, eu não tremi diante de tão injusta e inesperada acusação. Não perdi a calma habitual, nem respondi aos insultos recebidos, porque, conhecedor como era do Espiritismo, encontrou do meu lado uma barreira intransponível que me dera fé inabalável na Misericórdia Divina e compreensão exata dos meus deveres sociais para com o próximo. Durante muitos anos esse espírito permaneceu dando alterações em nosso lar. Desde minha primeira infância eu vinha estudando essa sublime Doutrina e através a fio de leitura das suas obras basilares, já estava consciente de que tudo quanto nos acontece tem uma razão de ser, porque Deus é justo e não há efeito sem causa. Assim foi que eu compreendi que minha companheira era apenas uma vítima da ação de um espírito inferior que ficou meu inimigo pelo simples fato de nos termos unidos pelos laços do matrimônio. Eu tive de suportar esse hóspede incômodo que repetidamente dava seria alterações no lar, durante 16 anos. A situação agravou-se de tal modo que foi necessário levar minha esposa a Uberaba, onde esteve em tratamento durante mais de um mês no Centro Espírita, e durante os trabalhos realizados em favor dela, foi arrancado a força esse perseguidor terrível que de forma alguma quis aceitar os ensinamentos do Mestre Jesus e fazer uma reconciliação. Lá nessa ocasião fomos prevenidos pelos Guias dos trabalhos que ela estava liberta apenas por uns tempos, porque viriam outros perseguidores tomar aquele lugar a fim de se cumprir nossas provas ou débitos de vidas anteriores. Em nosso lar foram recebidos alegres e carinhosamente abrigados a condição de filhos, cinco espíritos que Deus confiou a nossa guarda para serem encaminhados na vida terrena. Em 15 de julho de 1913, nosso lar foi enriquecido com o nascimento do primogênito, um bonito e forte rapaz que veio encher de alegria o nosso lar. Em homenagem ao grande educador espírita, ele recebeu o nome de Eurípides. Entretanto, o seu destino estava traçado e ele foi acometido por forte infecção intestinal. Os recursos médicos aplicados foram inúteis e ele faleceu aos três meses de idade. Dias depois foi-nos oferecida uma menina Sebastiana, com um mês de idade. Órfã de seus pais, de família paupérrima, e já muito enferma. Adotamos ela com a esperança de recuperar sua saúde e ampará-la nesta vida, mas seu destino também estava traçado, a enfermidade propagou-se cada vez mais e ela desencarnou dois meses depois, após os quatro meses em que esteve em nossa casa. Em setembro do mesmo ano, 1913, o casal Pedro Schuwindt e sua esposa Maria Rita vieram de Uberaba para esta cidade. Lá foram aconselhados por seus Guias Espirituais, que abrissem aqui um grupo espírita, que já era tempo de o fazer, pois, não havia nenhum aqui ainda. Eles aqui chegando convidaram quatro ou cinco pessoas conhecidas que sabiam ser simpatizantes da doutrina e logo fizeram a primeira reunião no próprio lar, numa segunda feira. Nessa mesma semana, encontrei-me com o Sr. Antonio Marcelino da Silva que foi um dos convidados para a primeira reunião, e era meu conhecido de muito tempo. Como ele sabia que eu estudava o Espiritismo, disse-me logo: fique sabendo que já realizamos sessões espíritas nesta cidade. Perguntei-lhe o dia e o lugar das reuniões e a resposta foi: em casa do João Teófilo de Meireles, pai de D. Maria Rita, onde eles residem, e às segundas feiras. Eu prometi que iria. No dia e hora marcada, eu lá estava para assistir pela primeira vez a uma sessão espírita. Além da família, estavam presentes mais cinco pessoas que tomaram parte no trabalho, presidida pelo irmão Pedro Schuwindt, tendo como médium, sua esposa a qual recebera alguns sofredores, que, ouvindo nossas preces, foram amparados pela Misericórdia Divina. Veio no fim um amigo aconselhar a turma a prosseguir resolutamente certos de alcançarmos a vitória. Não tive a menor surpresa, nem achei extraordinário, parecia que eu era velho frequentador dos trabalhos. Desde então, venho frequentando assiduamente, e tudo tenho feito em prol dessa doutrina. Em janeiro de 1914, deliberamos ao grupo a formação de uma associação, e no dia 11 reunimos todas as pessoas crentes na doutrina, que naquela época, já frequentavam os trabalhos, mas que estavam em caráter familiar. Assim, elegemos a primeira diretoria que ficou assim constituída: para Presidente Pedro Schuwindt, para Vice – João Florentino de Rezende, para Secretário – Nestor Rezende, Tesoureiro – Maria Rita Schuwindt, Procurador – Gustavo. Essa primeira diretoria foi empossada tendo como Orador – José Gonçalves Valim Pirai e os trabalhos continuaram sendo realizados normalmente. Com o estouro da 1ª grande guerra da Alemanha houve grande mudança na vida do país, mas tudo passou, e em janeiro de 1915, reelegemos a mesma Diretoria. Com o desencadear da guerra, foi criado um Tiro de Guerra para instruir os recrutas nos limites de idade. Com a cooperação de um grupo de cidadãos, estando à frente os Srs. Raulino Cota Pacheco, Pedro Salazar, João de Ávila, Tito Teixeira, José Gonçalves Dutra e muitos outros, fundamos o Tiro de Guerra que recebeu o número 243 nesta cidade. Fizemos a instrução e quando já estávamos próximos à receber o Certificado de Reservista, houve um atrito entre um atirador, e outro que era filho do Capitão Instrutor. Esse desentendimento causou grande contrariedade à turma de atiradores e o esfacelamento do grupo que não compareceu mais às instruções. O Capitão deu por encerrada a sua missão e regressou ao Corpo à que pertencia. Em 4 de agosto de 1915, recebemos com muita alegria o nosso segundo filho, Diniz, que Deus nos confiou. Era um menino robusto, forte e sadio que venceu heroicamente, dando-nos sempre grande prazer. Em janeiro de 1916, a diretoria do grupo ficou assim constituída: para Presidente Pedro Schuwindt; para Vice-Presidente Gustavo, Secretário: Edmundo S., Tesoureiro: Maria Rita, e outros. Em 1917, o Pedro Schuwindt tendo se ausentado desta cidade por longo tempo, pediu que fosse eleita outra pessoa para a Presidência a fim de não haver interrupção dos trabalhos. Feita a eleição em janeiro, verificou-se o seguinte resultado: para Presidente: Gustavo, e Vice João Florentino de Rezende, Secretário: Nestor, e Tesoureiro: Alfredo Silva, e outros. Nessa época tivemos que alugar uma casa para realizar os trabalhos, que até então, estavam sendo feitas na casa do presidente, na R. Barão de Camargos. Numa das primeiras reuniões, em que estavam presentes os membros da Diretoria, e considerando que o nosso grupo espírita era o primeiro e único organizado nesta cidade, propus a mudança do nome de Grupo, para Centro, e assim ficou registrado em Ata – Centro Espírita Fé, Esperança e Caridade, o qual está aí atestando a sua existência. Foi por essa época que eu lancei o projeto de construirmos uma Sede própria para o nosso Centro. Esse projeto foi recebido com muita frieza, pois as condições eram mesmo para se desanimar. O grupo de irmãos era muito pequeno e composto de pessoas que lutavam para defender o pão. Não havia dinheiro e nem era fácil arranjar emprestado. Por pouco tempo ocupamos a referida casa, porque ela foi vendida e o comprador exigiu que nós a entregássemos logo. Como não pudéssemos arranjar outra em condições de nos servir dentro do orçamento, resolvemos guardar os poucos móveis que já possuíamos e suspender os trabalhos até nova resolução. Passaram-se uns dois meses sem reuniões. Resolvi então que seria preferível reunirmos em minha própria residência, em uma sala de apenas 12 metros quadrados, pois não podíamos ficar estacionados. Começamos de novo as nossas atividades e levei à sério a campanha para a construção da sede própria, embora não tivéssemos nenhum dinheiro em caixa para enfrentá-la. Nessa altura, indiquei o local onde devia ser construída a sede: era um terreno de 15 metros quadrados por 22 de fundo e eu faria a Doação para o Centro, sem o menor ônus. Os recursos foram aparecendo em doses homeopáticas e a campanha teve prosseguimento durante o resto do ano. Em 13 de junho de 1917, o nosso lar foi enriquecido com a chegada do terceiro filho, forte e robusto, que recebeu no registro civil o nome de Waltercides Silva e com prazer e alegria recebemos esse presente que nos fora confiado. Em 1918 iniciamos a construção do Centro Espírita. Um pavilhão de 6 metros de frente, por 10 m de fundo. Durante o ano, mal fizemos os alicerces, pois os recursos não deram para mais nada. Em 1919, elegemos para Presidente, o Sr. Dr. Inácio Pinheiro Paes Leme, ficando eu, como Vice-Presidente. Ele, embora pouco afeito à parte religiosa da Doutrina Espírita, muito fez para nos ajudar. Em maio, transferiu-se para esta cidade o nosso amigo Odilon José Ferreira. Sendo ele informado dos nossos trabalhos, logo foi nos procurar para nos dar a sua colaboração, e nunca mais nos deixou. Pouco tempo depois, pusemos o telhado no prédio, e, mesmo sem terminar, instalamos nele os trabalhos. Nessa ocasião, o Odilon fundou a Escola São Vicente, tendo como auxiliar e professora, a Srta. Dolores Schuwindt, e eu também ajudava. Logo depois, veio o 3º filho Vinícius em 30 de abril de 1919 e a caçula Clélia em 6 de maio de 1921.
Gustavo José da Silva
28/12/1945